Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Retomamos hoje as catequeses sobre a
Igreja neste “Ano da Fé”. Entre as imagens que o Concílio Vaticano II
escolheu para fazer-nos entender melhor a natureza da Igreja, há aquela
da “mãe”: a Igreja é nossa mãe na fé, na vida sobrenatural (cfr. Const.
dogm. Lumen gentium, 6.14.15.41.42). É uma das imagens mais usadas pelos
Padres da Igreja nos primeiros séculos e penso que possa ser útil para
nós. Para mim, é uma das imagens mais belas da Igreja: a Igreja mãe! Em
que sentido e de que modo a Igreja é mãe? Partamos da realidade humana
da maternidade: o que faz uma mãe?
1. Antes de tudo, uma mãe gera a vida,
leva no seu ventre por nove meses o próprio filho e depois o abre à
vida, gerando-o. Assim é a Igreja: nos gera na fé, por obra do Espírito
Santo que a torna fecunda, como a Virgem Maria. A Igreja e a Virgem
Maria são mães, todas as duas; aquilo que se diz da Igreja se pode dizer
também de Nossa Senhora e aquilo que se diz de Nossa Senhora se pode
dizer também da Igreja! Certo, a fé é um ato pessoal: “eu creio”, eu
pessoalmente respondo a Deus que se faz conhecer e quer entrar em
amizade comigo (cfr Enc. Lumen fidei, n. 39). Mas eu recebo a fé dos
outros, em uma família, em uma comunidade que me ensina a dizer “eu
creio”, “nós cremos”. Um cristão não é uma ilha! Nós nãos nos tornamos
cristãos em laboratório, não nos tornamos cristãos sozinhos e com as
nossas forças, mas a fé é um presente, é um dom de Deus que nos vem dado
na Igreja e através da Igreja. E a Igreja nos doa a vida de fé no
Batismo: aquele é o momento no qual nos faz nascer como filhos de Deus, o
momento no qual nos dá a vida de Deus, nos gera como mãe. Se vocês
forem ao Batistério de São João em Latrão, junto à catedral do Papa, em
seu interior há uma inscrição em latim que diz mais ou menos assim:
“Aqui nasce um povo de linhagem divina, gerado pelo Espírito Santo que
fecunda estas águas; a Mãe Igreja dá à luz a seus filhos nessas ondas”.
Isto nos faz entender uma coisa importante: o nosso fazer parte da
Igreja não é um fato exterior e formal, não é preencher um cartão que
nos deram, mas é um ato interior e vital; não se pertence à Igreja como
se pertence a uma sociedade, a um partido ou a qualquer outra
organização. O vínculo é vital, como aquele que se tem com a própria
mãe, porque, como afirma Santo Agostinho, a ‘Igreja é realmente mãe dos
cristãos’ (De moribus Ecclesiae, I,30,62-63: PL 32,1336).
Perguntemo-nos: como eu vejo a Igreja? Se agradeço aos meus pais porque
me deram a vida, agradeço também à Igreja porque me gerou na fé através
do Batismo? Quantos cristãos recordam a data do próprio Batismo?
Gostaria de fazer esta pergunta aqui pra vocês, mas cada um responda no
seu coração: quantos de vocês recordam a data do próprio Batismo? Alguns
levantam a mão, mas quantos não lembram! Mas a data do Batismo é a data
do nosso nascimento na Igreja, a data na qual a nossa mãe Igreja nos
deu à luz! E agora eu vos deixo uma tarefa para fazerem em casa. Quando
voltarem para casa hoje, procurem bem qual é a data do Batismo de vocês,
e isto para festejá-la, para agradecer ao Senhor por este dom. Vocês
farão isso? Amamos a Igreja como se ama a própria mãe, sabendo também
compreender os seus defeitos? Todas as mães têm defeito, todos temos
defeitos, mas quando se fala dos defeitos da mãe nós os cobrimos, nós os
amamos assim. E a Igreja também tem os seus defeitos: nós a amamos
assim como mãe, nós a ajudamos a ser mais bela, mais autêntica, mais
segundo o Senhor? Deixo-vos estas perguntas, mas não se esqueçam das
tarefas: procurar a data do Batismo para tê-la no coração e festejá-la.
2. Uma mãe não se limita a gerar a vida,
mas com grande cuidado ajuda os seus filhos a crescer, dá a eles o
leite, alimenta-os, ensina-lhes o caminho da vida, acompanha-os sempre
com a sua atenção, com o seu afeto, com o seu amor, mesmo quando são
grandes. E nisto sabe também corrigir, perdoar, compreender, sabe ser
próxima na doença, no sofrimento. Em uma palavra, uma boa mãe ajuda os
filhos a sair de si mesmos, a não permanecer comodamente debaixo das
asas maternas, como uma ninhada de pintinhos fica embaixo das asas da
galinha. A Igreja, como boa mãe, faz a mesma coisa: acompanha o nosso
crescimento transmitindo a Palavra de Deus, que é uma luz que nos indica
o caminho da vida cristã; administrando os Sacramentos. Alimenta-nos
com a Eucaristia, traz a nós o perdão de Deus através do Sacramento da
Penitência, sustenta-nos no momento da doença com a Unção dos enfermos. A
Igreja nos acompanha em toda a nossa vida de fé, em toda a nossa vida
cristã. Podemos fazer agora outras perguntas: que relação eu tenho com a
Igreja? Eu a sinto como mãe que me ajuda a crescer como cristão?
Participo da vida da Igreja, sinto-me parte dela? A minha relação é uma
relação formal ou é vital?
3. Um terceiro breve pensamento. Nos
primeiros séculos da Igreja, era bem clara uma realidade: a Igreja,
enquanto é mãe dos cristãos, enquanto “forma” os cristãos, é também
“formada” por eles. A Igreja não é algo diferente de nós mesmos, mas é
vista como a totalidade dos crentes, como o “nós” dos cristãos: eu,
você, todos nós somos parte da Igreja. São Jerônimo escrevia: “A Igreja
de Cristo outra coisa não é se não as almas daqueles que acreditam em
Cristo” (Tract. Ps 86: PL 26,1084). Então, todos, pastores e fiéis,
vivemos a maternidade da Igreja. Às vezes ouço: “Eu creio em Deus, mas
não na Igreja… Ouvi que a Igreja diz…os padres dizem…”. Mas uma coisa
são os padres, mas a Igreja não é formada somente de padres, a Igreja
somos todos! E se você diz que crê em Deus e não crê na Igreja, está
dizendo que não acredita em si mesmo; e isto é uma contradição. A Igreja
somos todos: da criança recentemente batizada aos Bispos, ao Papa;
todos somos Igreja e todos somos iguais aos olhos de Deus! Todos somos
chamados a colaborar ao nascimento à fé de novos cristãos, todos somos
chamados a ser educadores na fé, a anunciar o Evangelho. Cada um de nós
se pergunte: o que faço eu para que o outro possa partilhar a fé cristã?
Sou fecundo na minha fé ou sou fechado? Quando repito que amo uma
Igreja não fechada em seu recinto, mas capaz de sair, de mover-se, mesmo
com qualquer risco, para levar Cristo a todos, penso em todos, em mim,
em você, em cada cristão. Participemos todos da maternidade da Igreja, a
fim de que a luz de Cristo alcance os extremos confins da terra. E viva
à santa mãe Igreja!
Fonte: www.cancaonova.com